quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Joanna,pintura intima

O 24º disco de carreira da cantora Joanna, 'Em Pintura Íntima', gravado ao vivo e que acaba de ser lançado em CD e DVD, não poderia ter outro título. Depois de 27 anos de uma vida vivida de música, ela começou a musicar, ainda na cabeça, outros arranjos, outras 'visões' para seus grandes sucessos. 'São canções que tocaram exaustivamente nas rádios, em novelas e que contam momentos da minha vida. A pior parte era definir o repertório, então, eu fiz uma enquete no meu site oficial (http://www.joanna.com.br) e as músicas votadas, numa feliz coincidência, eram as que eu tinha em mente', revela a cantora e compositora, em entrevista exclusiva para o caderno Magazine.
'Mas essa foi só a primeira parte! Eu queria fazer homenagens a parceiros e a outros artistas que tenho como influências. Eu tinha que gravar Gonzaguinha, fui a cantora que mais interpretou as músicas dele. Também queria fazer algo para o Cazuza, que antes de parceiro, era um grande amigo. E 'Codinome Beija-Flor', música que acabou entrando no show, é uma das mais lindas que temos na nossa MPB', derrete-se. Um detalhe: Joanna canta a música com Cazuza. No show, um telão aparece com a imagem e voz do grande poeta rebelde dos anos 80, no melhor estilo 'Unforgettable', quando Natalie Cole fez um dueto póstumo com o pai, Nat King Cole.
No disco, ela faz questão de cantar de tudo, do romântico ao samba. 'Por uma imposição das gravadoras, eu fiquei muito conhecida como cantora de balada, de música romântica. Mas eu sou mais do que isso! Esse é um trabalho totalmente polivalente, eu quis misturar a música, o cênico, o samba, o romance, porque sou filha dos palcos de teatro, então essa abrangência de estilos me é muito natural', explica. O repertório conta com 'Desculpe o Auê', de Rita Lee; 'Pintura Íntima', de Paula Toller e Leoni; 'Meu Mundo e Nada Mais', de Guilherme Arantes; e até mesmo com o 'Samba do Arnesto', de Adoniran Barbosa.
'Essas são músicas que eu canto desde sempre. No barzinho, quando comecei a cantar, no chuveiro de casa, enfim, essas são as minhas influências e eu queria mostrar, junto com as músicas da minha carreira que viraram grandes sucessos, do que eu sou fruto. Quis mostrar minha versatilidade. É difícil mostrar tudo numa apresentação rapidinha de programa de TV, então eu tentei fazer isso nesse DVD', diz Joanna. A apresentação foi gravada no City Bank Hall, em São Paulo, e ficou um ano na gaveta até ser lançado.
'Além das preparações técnicas para o lançamento, ainda precisei fazer a triagem para decidir o que entrava e o que não entrava no CD e no DVD, um sofrimento! Mas acho que consegui unir grandes momentos e fiz questão de fechar com ‘Deixa a Vida Me Levar’, uma música superpositiva que conta a história de todos nós, que já passamos por altos e baixos. Ela é uma síntese de todo o clima desse trabalho', afirma a cantora.
Essa retrospectiva não significa 'fim de ano' para a carreira de Joanna, muito pelo contrário. 'O artista não pára nunca, né, ele quer sempre mais, e quer se renovar... As pessoas não acreditam no quanto é desgastante, física e emocionalmente, ser artista, porque é uma vida de entrega, de dedicação total, mas acho que é assim pra todo mundo que ama e abraça o seu ofício. E apesar de tudo, eu não consigo imaginar minha vida sem tudo isso. E ainda almejo muito, quero muito. Deixar de sonhar, é deixar de viver e eu ainda tenho muita força, muita vontade', garante.
Intérprete de grandes nomes da música brasileira, Joanna acha que ainda está pra nascer aquele novo Cazuza, Gonzaguinha. 'A Cássia Eller tava trilhando um caminho maravilhoso quando morreu daquela forma. Ela seria o novo Cazuza, tamanha era a força que ela tinha, enquanto artista. A Adriana Calcanhoto é, definitivamente, a nossa Nara Leão dos dias de hoje. Mas uma Clara Nunes, que pra mim, foi uma das maiores cantoras desse país, não tem nenhuma igual ou parecida. Mas é complicado, né? Quem vai substituir um Renato Russo, por exemplo? O cara deixou a marca dele, é difícil superar', analisa.
A crise no mercado fonográfico, a pirataria, os downloads e tudo o mais não enfraqueceram o vigor da compositora, que diz estar cheia de letras no baú, esperando a hora certa de voltar a gravar suas próprias músicas. 'Ela veio pra modificar, né, todo mundo sabia que as coisas iam mudar. Já dei de cara com discos meus em banquinhas de CDs piratas, mas vou dizer o quê? Eu vou ter o meu argumento, o vendedor, o dele. Mas eu adoro a internet, acho o máximo, o lance da pirataria acho que tem mais a ver com um descaso do Governo Federal. Cheguei a me reunir com um grupo grande de músicos, fomos até Brasília discutir essa situação. A resposta que recebemos dizia que os governantes tinham coisa muito mais importante com o que se preocupar. Aí, pensa: se o teu Governo não dá a mínima, o que se pode fazer? Não acho que a pirataria acabou com as vendas, não. Houve uma diminuição, é claro. Mas meu CD já vendeu 40 mil cópias, é bom isso! Mas enfrentamos uma concorrência desleal...', lamenta Joanna.