sábado, 22 de dezembro de 2007

Norton Nascimento

A Esposa de Norton Nascimento, morto ontem pela manhã após sofrer parada cardíaca em decorrência de um quadro de infecção pulmonar, afirmou à tarde que o ator era um 'vencedor' e que manteve o bom humor durante todo o período em que ficou internado no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
Ainda segundo ela, Nascimento deu entrada no hospital com uma virose pulmonar no último dia 29 para realizar um exame de rotina e desde então vinha tendo cuidados especiais.
'Ele estava consciente e reclamando que não deixavam ele comer serigüela', contou a viúva Kelli Candia Nascimento, que estava casada com o ator havia cinco anos. Norton Nascimento tinha três filhos, Luana, 22, Lucas, 21, e Yasmin, 14, todos da primeira esposa, Rosana.
O corpo do ator foi velado no Cemitério Memorial Parque Paulistano, em Embu, na Grande São Paulo. Além da viúva, os pais e alguns alunos do grupo de teatro do ator compareceram ao local do velório.
ÚLTIMO DESEJO
Kelli afirma que conheceu o ator durante os encontros do Grupo de Apoio ao Usuário e à Família (Gauf), pertencente à Igreja Renascer em Cristo, quando ele sofria de problemas de alcoolismo. Foi nessa mesma época que Nascimento se tornou evangélico. Ainda de acordo com a viúva, um dos últimos desejos manifestados pelo marido em vida foi 'ouvir a voz da bispa Sonia'. Ainda consciente, ele teria conversado por telefone com a bispa da Renascer - que se encontra em prisão domiciliar nos EUA por fraude na declaração de bens ao ingressar no país.
A viúva lembrou também a última frase do ator na peça 'Adão e Eva - Um clássico', montada por um grupo de atores da igreja que tratava da doação de órgãos: 'É isso a doação, começa na família'.
'O que mais fez com que o amasse era que procurava ser um homem melhor a cada dia. Era generoso, altruísta e muito teimoso com o que queria. Ele tinha um coração muito especial', declarou Kelly.
TRANSPLANTE
Norton Nascimento estava com 45 anos e havia se submetido a um transplante de coração em 19 de dezembro de 2003 para correção de um aneurisma da aorta, um problema congênito. Na época, ele ficou 53 dias internado e chegou a passar quatro deles sem coração, vivendo com auxílio de aparelhos.
Entre seus trabalhos na TV estão as novelas 'As filhas da mãe' (2001), 'A próxima vítima' (1995), 'Fera ferida' (1993), 'De corpo e alma' (1992) e o filme 'Carlota Joaquina - princesa do Brasil' (1995). Seu último trabalho foi 'Maria Esperança', que foi ao ar neste ano pelo SBT.
Após o transplante de coração, Nascimento se dedicou a atividades em prol de entidades assistenciais. Em 2004, Norton Nascimento participou de uma campanha do governo federal que incentivava a doação de órgãos.
Norton abriu caminho de outros astros
Norton Nascimento foi o primeiro galã negro da TV brasileira. Quem atesta é Joel Zito Araújo, autor do livro e documentário homônimo 'A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira'. Nascimento faleceu ontem em São Paulo de parada cardíaca provocada por infecção pulmonar.
'Ele faz parte de um momento muito importante na história da cultura do país em que o negro é incorporado como bonito', afirma Araújo. 'Antes do Norton, você tinha o Nilton Gonçalves e outros, mas sempre retratados dentro do ranço da cultura brasileira, que colocava o negro não só como subalterno, mas como expressão do feio.'
Nascido em Belém do Pará, em 1962, o ator ganhou projeção principalmente nas novelas 'Fera ferida', de 1993, e 'A próxima vítima', de 1995. Na primeira, escrita por Aguinaldo Silva, Nascimento interpretava o sensual Wotan, empregado da fogosa Rubra Rosa, vivida por Suzana Vieira. Já em 'A próxima vítima', de Sílvio de Abreu, ele fez o papel de Sidney, um gerente de banco filho de uma bem-sucedida família de classe média negra, que tinha também Camila Pitanga como aspirante a modelo.
'Você vê que nessa época (meados dos anos 90) há uma tomada de consciência dos diretores e publicitários, que começaram a chamá-lo para estrelar campanhas. Foi nesse mesmo período que despontaram a Taís Araújo, a Isabel Fillardis e a Camila Pitanga, atores negros que passam a entrar nas novelas como personagens esteticamente bonitos. O Norton é a representação masculina desse contexto', defende Araújo, citando como possíveis beneficiados da abertura promovida por Nascimento os atores Lázaro Ramos e Jonathan Haagensen, de 'Cidade de Deus'. 'Foi a partir dele, no final dos anos 90 e início do século 21, que tivemos uma gama maior de negros tratados como bonitos. E o Norton inaugurou isso. Uma nova fase da televisão e da publicidade brasileira colocando o negro como galã.'
Araújo conta que ele e o ator tinham um projeto conjunto de um documentário sobre 'um líder espiritual negro' que acabou não realizado por falta de tempo e de contato. 'Possivelmente desde a conversão dele (Nascimento se tornou evangélico após realizar um transplante de coração em 2003) ele tenha mudado seus líderes espirituais', afirma. 'Desde antes do transplante ele já estava mergulhado em sua parte espiritual e começou a intuir que alguma séria estava para acontecer com ele', revela Araújo, que se encontrou pela última vez com Nascimento em 2005, durante o festival de cinema de Recife.
Ator privilegiou papéis na telinha
Nascido em 4 de janeiro de 1962, o paraense Norton Nascimento fez diversas novelas e também participações em séries de TV. Ele iniciou na televisão em 1981 na novela 'Os Imigrantes'. Em seu currículo também constam 'Fera ferida' (1993), 'A próxima vítima' (1995), 'A padroeira' (2001) e 'As filhas da mãe' (2001).
Se consideradas as séries, ele apareceu em 'Chiquinha Gonzaga' (1999), 'Agosto' (1993), 'Sai de baixo' (1997 e 2001) e 'Malhação'. Norton também participou do filme 'Carlota Joaquina' (1995), no papel de Fernando Leão.
Em 2001, ele recebeu o prêmio de melhor ator negro de novela, no 2º Festival Latino-americano de Cine Vídeo e TV, por seu trabalho em 'A Padroeira'.
No final de 2003, deu entrada na mesma Beneficentd Portuguesa, onde morreu ontem, para operar de um aneurisma no coração e, por conta de complicações, passou por um transplante de coração em dezembro. 'Eu estava morto, os médicos disseram isso', afirmou em entrevista ao 'Fantástico' em fevereiro de 2004.
Antes da operação, ele admitia que bebia e fumava muito. Depois, passou a tomar mais cuidado com a saúde, dando atenção também à alimentação. 'Não dá para comer como antes, quando era feijoada num dia, buchada no outro. Isso não pode mais, tenho que tomar cuidado', disse no programa 'Happy Hour', do GNT, em outubro deste ano.