sábado, 1 de dezembro de 2007

Criticas do Papa Bento XVI

Bento XVI criticou fortemente o ateísmo moderno na segunda encíclica de seu papado, dizendo que ele tem levado a 'uma das maiores formas de crueldade e violações da justiça' conhecidas pela humanidade. O Papa também questionou o cristianismo moderno, que para ele ao se concentrar na salvação individual ignora a mensagem de Jesus de que a verdadeira esperança cristã envolve a salvação de todos.
'Salvos pela Esperança' é uma profunda exploração teológica da esperança cristã no pós-morte: que no sofrimento e miséria do cotidiano, o cristianismo oferece ao fiel uma 'jornada de esperança' para o Reino de Deus. 'Temos de fazer todo o possível para superar o sofrimento, mas bani-lo do mundo não está em nosso poder', escreveu Bento. 'Apenas Deus é capaz de fazer isso'. No documento de 76 páginas, o Papa analisa como o entendimento cristão da esperança mudou nos tempos modernos, quando o homem buscou aliviar o sofrimento e injustiça ao seu redor.
Bento destaca dois levantes históricos: a Revolução Francesa e a revolução proletária instigada por Karl Marx. Bento critica duramente Marx e o ateísmo dos séculos 19 e 20 disseminado por sua revolução, apesar de reconhecer que ambos respondiam a profundas injustiças da época. 'Um mundo marcado por tanta injustiça, pelo sofrimento de inocentes e pelo cinismo do poder não pode ser o trabalho de um bom Deus', escreveu. Mas a idéia de que o homem pode fazer o que Deus não pôde criando uma nova salvação na Terra é 'tanto presunçosa quanto intrinsecamente falsa'. 'Não é acidente que essa idéia levou às maiores formas de crueldade e violações da justiça', afirmou. 'Um mundo que tem criado seu própria justiça é um mundo sem esperança'.
Ele citou especificamente o revolucionário russo Lenin e a 'fase intermediária' da ditadura do proletariado que Marx via como necessária para se alcançar uma sociedade justa, comunista. 'Esta ‘fase intermediária’ conhecemos muito bem, e também conhecemos como ela tem evoluído, não trazendo um mundo perfeito, mas deixando para trás um rastro de destruição assustador', escreveu Bento. Ao mesmo tempo, o Papa lança um olhar crítico na forma como o cristianismo moderno tem respondido aos tempos, dizendo que tal 'autocrítica' também era necessária. 'Temos de reconhecer que o cristianismo moderno, diante do sucesso da ciência em estruturar progressivamente o mundo, tem em larga margem restringido sua atenção ao indivíduo e em sua salvação', continuou. 'Desta forma, ele tem limitado o horizonte de sua esperança e não tem conseguido perceber a contento a grandeza de sua tarefa'. 'O conceito cristão de esperança e salvação nunca foi tão egocêntrico', frisou.
SERVIR
Citando as escrituras e teólogos, Bento disse que a salvação nos primórdios da igreja era considerada 'comunitária' - ilustrando seu ponto usando o caso dos monges na Idade Média que se enclausuravam em oração não apenas para sua própria salvação, mas pela dos outros. 'Como pode ter desenvolvido a idéia de que a mensagem de Jesus é egoisticamente individualista e visando apenas cada pessoas em si? Como chegamos a esta interpretação de ‘salvação da alma’ como uma fuga da responsabilidade pelo todo, e como chegamos ao ponto de conceber o projeto cristão como uma busca egoísta de salvação que rejeita a idéia de servir aos outros?' questionou. Buscando respostas, ele também destacou que existem formas de os fiéis aprenderem e praticarem a verdadeira esperança cristã: na oração, no sofrimento, no agir e entendendo o Julgamento Final como um símbolo de esperança.
'Salvos pela Esperança' segue-se à primeira encíclica de seu papado: 'Deus é Amor', divulgada no ano passado. Com as duas encíclicas, os documentos mais impositivos que um papa pode emitir, Bento explorou duas das três virtudes teologais cristãs: fé, esperança e caridade (amor). 'Todos nós nos perguntamos se haverá uma terceira encíclica sobre a fé', admitiu o porta-voz do Vaticano, reverendo Federico Lombardi. 'Ela não pode ser excluída, mas não está planejada'.

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